Nasci cego e, desde então, naveguei por um mundo que muitas vezes parece mais interessado na aparência da inclusão do que em sua substância. Ao longo da minha vida, e especialmente no meu trabalho como defensor dos direitos das pessoas com deficiência, testemunhei e às vezes fui um sujeito involuntário do que passei a reconhecer como "falsa inclusão". Esse fenômeno ocorre quando empresas e organizações se adornam com a bandeira da inclusão, mas suas ações revelam um entendimento e comprometimento superficiais com o que isso realmente implica.
No contexto da falsa inclusão, a inclusão muitas vezes é reduzida a meros gestos simbólicos: declarações grandiosas, campanhas de marketing que nos apresentam como sujeitos de inspiração sem nos oferecer verdadeiro protagonismo, ou iniciativas "acessíveis" que falham no primeiro contato com a realidade. Experimentei a frustração de interagir com serviços e produtos promovidos como acessíveis, apenas para descobrir que seu design e execução deixam muito a desejar, destacando um descompasso entre a retórica inclusiva e a prática.
Essas experiências não são meros inconvenientes; elas representam barreiras reais que limitam nossa plena participação na sociedade. Além da exclusão prática, elas perpetuam um ciclo vicioso de discriminação, onde a imagem pública de progresso em direção à inclusão mascara a estagnação e até mesmo regressão na luta por direitos e oportunidades reais.
A reação das entidades confrontadas com essas críticas é, infelizmente, previsível. Negação, justificação ou comprometimento superficial são respostas comuns, revelando uma verdade desconfortável: elas muitas vezes estão cientes das deficiências em suas abordagens à deficiência, mas a mudança real exige mais do que estão dispostas a oferecer.
Diante dessa realidade, defendo uma mudança radical na maneira como concebemos e praticamos a inclusão. A participação de pessoas com deficiência não deve ser simbólica, mas fundamental, não apenas como consultores ocasionais, mas como líderes e tomadores de decisão nos espaços que afetam nossas vidas. A inclusão genuína exige esforço sustentado, disposição para ouvir e aprender e, acima de tudo, um compromisso com a ação.
Esse apelo por mudança vai além das empresas e organizações; é um desafio para a sociedade como um todo. Deve começar reconhecendo e valorizando as vozes das pessoas com deficiência, entendendo que a verdadeira inclusão envolve compartilhar liderança e espaço, respeitando a diversidade de nossas experiências e necessidades.
Aos meus colegas com deficiências visuais, insto vocês a reivindicarem seu lugar não apenas como sujeitos de direitos, mas como formadores ativos de uma sociedade mais inclusiva. Não deixem que outros tomem as rédeas de sua narrativa ou decidam seu caminho. Embora o apoio seja crucial, ele deve ser apenas isso: um apoio que fortalece sua autonomia e respeita sua liderança.
A luta por uma inclusão real é árdua e cheia de desafios, mas juntos, armados com nossa resiliência, conhecimento e experiências vividas, podemos superar a falsa inclusão. Podemos construir um futuro onde a inclusão seja uma realidade tangível, enraizada no respeito, equidade e dignidade para todos.
Pela verdadeira inclusão.
Juan Pablo Culasso
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