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  • Foto do escritorJuan Pablo Culasso

Retratos do Brasil

Para mim, depois de tantos anos gravando paisagens sonoras, elas continuam sendo um mistério.


Minha experiência como gravador de som até 2010 se limitava à gravação de sons de pássaros. Um microfone unidirecional como o Sennheiser ME67 e um Marantz PMD671 eram meus companheiros no campo: ouvia o canto do pássaro, localizava-o, apontava o microfone, pressionava Rec, esperava alguns minutos ou o que quer que o pássaro quisesse cantar, uma breve nota de voz no final da gravação e pressionava a tecla Stop.


Em 2010 ou 2011, em uma das muitas noites em que passo o tempo lendo, deparei-me com uma técnica de gravação para capturar algo chamado paisagem sonora.


Uma paisagem sonora nada mais é do que um conjunto de sons emitidos pelos seres vivos (biofonia), pelos sons dos elementos (geofonia) e pelos seres humanos (antropofonia). Entrando em detalhes, entendi que uma gravação de paisagem sonora se torna especial pela presença da biofonia e da geofonia, evitando ao máximo a antropofonia.


A equação se tornou mais complicada a cada parágrafo de minha leitura; era necessário usar pelo menos dois microfones. Além disso, para obter uma paisagem sonora representativa do local, era necessário gravar pelo menos trinta minutos sem interrupções. Foi um imenso desafio entender o grande número de possibilidades. Para capturar uma paisagem sonora, há um número infinito de técnicas que, em princípio, são usadas para gravar orquestras, peças de teatro e filmes.




No álbum Retratos do Brasil, utilizo uma configuração de microfone conhecida como SASS, que significa Stereo Ambient Sampling System. Essa configuração consiste em dois microfones omnidirecionais em um ângulo divergente e uma barreira acústica entre eles. Sim, eu sei, parece estranho. Mas quando você ouvir o álbum, entenderá a magnitude do som gravado com essa técnica especial desenvolvida há mais de 80 anos.

A paisagem sonora está cada vez mais difícil de ser registrada em seu conjunto ideal, biofonia mais geofonia. A grande destruição de florestas e selvas, aliada ao fato de que em pouco mais de cinco anos haverá 8 bilhões de seres humanos no planeta, o fator antropofonia está invadindo cada vez mais esse delicado equilíbrio.


Embora eu esteja gravando paisagens sonoras há 8 anos, elas nunca param de me surpreender; cada nascer do sol, pôr do sol ou noite é como uma folha de papel em branco na qual a natureza escreverá sua música.

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